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Filipe Melo em discurso directo |
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"Façam um filme de zombies, por favor." O fundador do Pato Profissional, fala das aventuras da rodagem em Tondela e da vontade de se dedicar ao piano.(ver entrevista) ou (ouvir)
Filipe Melo, pianista de profissão, é o jovem argumentista e produtor da primeira curta metragem de zombies portuguesa. Natural de Tondela, desde pequeno que sonhava rodar um filme de Zombies. Sonho que aos 23 anos de idade conseguiu concretizar, com muito empenho, trabalho, suor e o dinheiro que tinha de parte para comprar uma casa…
Esta transcrição é apenas um excerto da entrevista.
UZI: Olá Filipe, o que é o "I’ll see you in my dreams?"
Filipe Melo: (…) um filme de zombies com vinte minutos, onde tentamos condensar um história cheia de traição, violência, amor e Zombies.
UZI: O primeiro filme português?
FM: Creio que até a data é, embora tenha decoberto recentemente que houve filmes de Zombies que foram rodados na torre de belém, estou a procura deles. Até os descobrir, posso dizer humildemente que é o primeiro filme português de Zombies.
UZI: Como se passa da música para o cinema?
FM: (…) Eu tenho um espécie de Dr. Jekill e de Mr. Hide (dentro de mim), Dr. Jekill dedica-se ao piano, enquanto o Mr Hide gosta de filmes de Zombies. (…) As duas coisas são dirigidas a minorias, e acaba por ser uma missão dos músicos de Jazz e das pessoas que fazem filmes de zombies, divulgar um género que não é muito típico e entra em desuso. Hoje, tanto o Jazz, devido a nova geração de músicos de Jazz comercial como a Diana Krall, como a nova geração de terror) comercial, como o remake do ´†Down of the deads†' estão a ganhar novos adeptos. Então, saber que estamos a dar a nossa contribuição, é um grande orgulho, e acaba por ser muito divertido.
UZI: Escrever o argumento, foi díficil?
FM: Não porque eu não queria escrever um grande argumento, isto partiu de um princípio muito básico que era fazer um filme com amigos. (…) Nunca pensamos que iria ser feita tão seriamente, entao nunca tivemos a preocupação de não termos experiência suficiente para escrever um grande guião. A primeira versão era patética, a segunda era patética, a última… tambem era, mas era honesta e despretenciosa.
UZI: Como foi produzir um filme de terror em Portugal?
FM: Foi complicado, mas foi uma espécie de bola de neve. No início queriamos produzir uma coisa caseira (…) mas a medida que começamos a ganhar mais um bocado de confiança no argumento, decidimos apresentá-lo ao ICAM. Quando nos deram o subsídio quisemos tentar provar às pessoas que os filmes de Zombies não são sempre feitos as três pancadas. Foi uma cruzada tentar fazer com que o filme tivesse qualidade e que satisfizesse os amantes do género.
UZI: Quanto custou o filme?
FM: … caro, mas eu tive um grande auxílio. Ao longo dos anos eu tive o apoio dos meus pais, eles foram depositando dinheiro para eu um dia ter um apartamento. Esse dinheiro foi esbanjado (no filme) e eu vou estar a paga-lo. Portanto podem equiparar o preço deste filme a um apartamento em Lisboa.
UZI: Como foi a rodagem?
FM: Eu não sabia que uma rodagem era tão tensa (…) eu tinha uma ideia de um filme mais amadora, quando realizei que estava a fazer algo de profissional reparei que as pessoas ficam bastante mais nervosas. Passamos momentos realmente duros, (…) e acabei a rodagem a ir de urgência para o hospital em Lisboa. Mas compensa, por exemplo, o fim de semana passado o filme foi apresentado em Tondela, e aí pude ver quem eram realmente os nossos amigos, e no fundo penso que todos vao concordar que isto não foi só mais uma curta, geraram-se amizades muito sérias.
UZI: A equipa de rodagem era Portuguesa ou tiveste de recorrer a equipas estrangeiras?
FM: Eu tenho vários amigos estrangeiros, nomeadamente espanhois. Convidei um realizador espanhol, o Miguel Angél Vivas, para realizar o filme (…) e ficou encarregue da equipa de imagem. Ele chamou as pessoas com quem costuma trabalhar. (…)Quanto aos efeitos especiais, eu estive muitas horas na internet a procura de uma empresa que conseguisse assegurar Zombies reais. O nosso primeiro contacto foi com uma lenda viva do cinema de terror, o Tom Savini, que era uma espécie de ídolo para nós, mas ele já é avô, tem uma vida tranquila e não estava inteiramente disposto a vir até Portugal. Como ele não nos honrou com a sua presença, nós decidimos contactar uma equipa, (a SFX Studio) e que trabalha em filmes como o "scary movie 3" e os "ficheiros secretos", entre outros. Eles foram muito simpáticos e acima de tudo enviaram-nos uma versão detalhada do argumento com todos os efeitos que nos iam fazer e quanto nos ia custar. Este trabalho e este esforço pareceu-me muito valioso, e foram eles que eu chamei. Eram personagens muito curiosos no mínimo! Mas gostaram de cá estar, comeram muito caldo verde beberam muita Super Bock e estão ansiosos por voltar. As pessoas tem que fazer mais filmes de terror cá e tem de os chamar. Eles estão mortos por voltar a Portugal.
UZI: Onde gravaste?
FM: Eu tenho uma grande sorte. A minha família é da zona de Tondela, e desde pequeno que eu vou para os pinhais a procura de sítios para um dia fazer um filme de Zombies. Conhecia uma série de casas abandonadas, bosques assustadores e rios cheios de lodo. Quando fiz a história tive em conta todos estes locais. A Câmara Municipal ajudou-me a conseguir esses sítios e a população local ajudou a alimentar os actores fazendo sandwiches. Se não fossem eles não teria sido possivel fazer este filme. Recomendo a todos os cineastas que se desloquem a zona de Tondela, que é uma linda cidade e que à noite é bastante assustadora.
UZI: E a cena de sexo??
FM: A cena de sexo do ISYIMD é muito violenta, na minha opinião a mais violenta do filme. Quando estavamos a rodá-la, eu estava demasiado encavacado para entrar no set. Estava a porta, a São José Correia a gemer, portanto a fazer o seu papel, quando recebo a notícia que o Presidente da Câmara de Tondela vinha visitar a rodagem! Estive à porta com o Sr. Presidente enquanto decorria a cena mas correu tudo bem. A São José Correia é uma actriz de grande arcaboiço (…) o que caracteriza a cena são os gritos dela que ultrapassavam todos os decibéis de qualquer concerto dos Megadeath!
UZI: Como se está a processar a distribuição?
FM: Tem sido um trabalho muito caseiro. (…) o trabalho de enviar os filmes para os festivais é feito por nossa conta, e estamos a tentar encontrtar uma distribuidora. Nós temos um objectivo: Que o filme estreie com dignidade. Nós não queremos ganhar dinheiro, queremos é que o filme seja estreado antes de uma longa com o mesmo tema, e que preferencialmente chegue ao máximo número de pessoas possível. (…)
UZI: O teu filme tem sido bem recebidos nos festivais, e ganhou alguns prémios…
FM: Os prémios foram uma surpresa, mas na verdade acho que nenhum de nós lida bem com os prémios. Nós estamos habituados a lidar com coisas que correm mal, estamos habituados a estar na rodagem e nao ter película ou que o zombie não esteja pronto a horas. Não estamos preparados para chegar aos festivais e receber prémios, tal como aconteceu no FantasPorto. Agora ganhamos o "Méliès d’or", que é uma grande honra, mas ao mesmo tempo acaba por não nos iludir, porque ainda estamos a lidar com os problemas que se prendem com a distribuição e estamos demasiados distraídos para celebrar.
UZI:
A atribuição dos prémios ajudou de alguma maneira?
FM: Eu fico contente por ver os "fantasportozinhos" na minha prateleira. Eles ajudaram a que se divulgasse o filme. O meu objectivo é que as pessoas se lembrem deste filme daqui por uns anos. (…)… gerar uma espécie de culto, isso sim, eu gostava. E isso começa a acontecer!(…) Eu tenho orgulho que o meu filme esteja a circular na internet, no "emule", aliás podem sacá-lo e afectar a venda do DVD têm todo o meu apoio! (…) (risos)
UZI: A Zombie da autópsia não entra no final cut, porquê?
FM: A Zombie da autópsia, não entra por opção do realizador. Posso dizer que o filme que eu queria fazer era muito mais violento e muito mais gráfico. Acabou por se tornar muito mais ameno porque o realizador tem opções mais softs e psicológicas. Acabou por dar um balanço positivo, porque o filme que eu teria feito não ganharia nenhum prémio, provavelmente só seria visto por aquelas pessoas que gostam mesmo de filmes de zombies. Por esse motivo alguns Zombies ficaram sacrificados, para grande pena minha.
UZI: Novos projectos?
FM: Agora planeio dedicar-me ao piano para voltar a estar em forma. No que diz respeito aos zombies, eu disses noutras entrevistas, que não ia voltar a fazer filmes de zombies mas…
Cada dia mais percebo que é inevitável, ainda não fiquei satisfeito(…). Uma das maiores recompensas de ter feito o ISYIMD, foi ter viajado até a Argentina a um festival chamado "Mar del Plata" onde conheci um grupo de jovens cineastas que tem a mesmo missão na Argentina que nós tivemos cá, que é divertir-se a fazer filmes gore. Tornámo-nos imediatamente amigos, e visto que partilháva-mos das mesmas influências decidimos um dia colaborar. Eles têm uma longa metragem genial (…) que se chama "Praga Zombie", eles chamam-se "Farsa produções" o filme deles é brilhante, feito com poucos meios, mas vai ser comprado pela "Trauma".Uma das minhas missões é ir para a Argentina durante um mês, viajar com eles numa carrinha e rodar a "Praga Zombie 3" da qual a "Pato Profissional" será a co-produtora portuguesa.
UZI: Já pensaste em realizar?
FM: Agora que estive no cargo mais dramático que é o de produtor, percebo que nunca iria prescindir do lugar de realizador porque é o mais divertido. Acho que uma das maiores recompensas de se fazer um filme é poder realizar. Se eu voltar a fazer alguma coisa, vou ter de passar o cargo de produtor para alguém.(JC) « |
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