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Parabéns FIB! |
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Ao terceiro dia de festival, exigem-se super poderes àqueles que quase vivem dentro do recinto do FIB. 20:00 – Love with Arthur Lee, 20:50 – Wire, 21:20 Brian Wilson, 22:55 – Franz Ferdinand, 23:35 – Lambchop, 00:10 – LCD Soundsystem, 00:15 Spiritualized. É impossível assistir a tudo. Há que fazer opções complicadas e esquecer imediatamente quem está no palco ao lado.
Ao final da tarde, Arthur Lee mostrou como um concerto pode ser um verdadeiramente sofrimento. Quem não nasceu nos anos 60 nunca poderia ter visto Arthur Lee e os Love ao vivo e por isso agora tenta compensar o tempo impossível. Há um nervosoismo natural que caminha de mãos dadas com o medo. Conhecemos as músicas e as fotografias. Achamos que conhecemos as pessoas e que, quase 40 anos depois, o máximo que pode ter acontecido são umas rugas e uns cabelos brancos. Arthur Lee em 2004 é a prova (semi) viva de que é impossível ver hoje um concerto que faria sentido no seu próprio contexto e não num festival de Verão em plena estância balnear espanhola. O que é que está Arthur Lee, acompanhado por uma espécie de banda tributo, a fazer em Benicàssim? É um exercício puramente masoquista e o concerto mais doloroso do FIB 2004.
Inesquecível, seguramente, mas também um dos concertos mais penosos de sempre. Arthur Lee não canta, tenta. Toca de forma mecânica. Arthur Lee não se consegue equilibrar, coxeia. Senta-se escondido nos amplificadores durante os seus solos que outros estranhos executam e chega mesmo a atirar a pandeireta ao chão. Chora, fala dos amigos e da morte que os levou, em particular de Rick James cujo falecimento lhe tinha tinha sido comunicado minutos antes. Os temas dos Love são tocados mas já nada interessa. O Arthur Lee das fotografias morreu. Está um fantasma no palco enquanto no “Escenario Kane NYC FIB Club” os anos parecem não passar pelos Wire.
A recriação dos anos 60 continua com Brian Wilson no “Escenario Verde”, mas aí a esperança renasce. Afinal os Beach Boys adorariam certamente as praias de Benicàssim, apesar da inexistência de ondas e da temperatura exagerada da muito salgada água do mar. Ultrapassadas as múltiplas depressões, Brian Wilson sabe agora enfrentar multidões sem qualquer tipo de fobia aparente. Sentado em frente ao seu fiel órgão e rodeado de uma imensidão de excelentes músicos, o avô Wilson ofereceu um espectáculo irrepreensível que, ao contrário do que seria de imaginar, não se concentrou apenas no perdido “Smile”, mas sobreudo nos grandes sucessos dos Beach Boys, para ouvir de olhos fechados. “God Only Knows” soa ainda melhor do que no enciclopédico “Pet Sounds” e no final “Surfin’USA”, “Barbara Ann” e “Fun Fun Fun” cometeram a heroica façanha de fazer o Sol brilhar durante a noite.
Finalizados os concertos antológicos da décima edição do FIB, faltava ainda confirmar talentos, rever amores antigos e festejar até de manhã.
O inicio do concerto dos Franz Ferdinand fez-se ao som de “Cheating On You”. Mentira. Eles não enganam. As canções são genuinamente boas e o objectivo a que se propõem é cumprido de forma descarada: obrigam a dançar. Felizmente, “Take me Out” não é guardada para o fim e é mesmo o tema do ano e do festival. Canção “3 em 1” que já conquistou um lugar nos registos musicias de 2004.
Ainda sem ser possível recuperar as energias gastas durante o concerto dos Franz Ferdinand, coube aos LCD Soundsystem a tarefa de electrizar as muitas almas que saltitavam no “Escenario Hellomoto”, o que é fácil quando se têm temas como “Yeah”. Letra primária e ritmo inteligente que fazem os braços levantar automaticamente.
Em Portugal, os Spiritualized estão condenados a actuar em Queimas das Fitas e festivais perdidos algures em Trás-os-Montes. Em Benicàssim têm o lugar que merecem – o palco principal. Durante uns fugazes 45 minutos, Jason Pierce pilotou os Spiritualized em nome da NASA e as suas canções espaciais trouxeram o equilíbrio ao FIB. Temas como “Come Together” e “I Think I’m in Love” ganham contornos religiosos ao vivo e apesar da curtíssima duração da actuação, ocupam imediatamente um lugar especial nas memórias do FIB 2004.
Já em clima de fim de festa, mas sem nunca esmorecer, iniciava-se a alucinante recta final da edição de aniversário do FIB. A noite da editora londrina Output aqueceu com Trevor Jackson e Dead Combo e culminou com uma boa actuação dos Colder e uma enorme vontade de comprar uns óculos de sol, provocada pelos sons da manhã dos Blackstrobe. Os Chemical Brothers, venerados inexplicavelmente em Espanha, trouxeram desta vez um espectáculo mais antológico e por isso melhor. Mas foi Tiga quem teve a honra de se despedir do público do FIB, já com os primeiros raios de sol e um dj set onde não faltou outro dos clássicos matutinos deste aniversário – “Rocker” dos Alter Ego. No final, as sensações de sempre: a saudade imediata dos últimos dias de música, a contagem decresente que se inicia para a próxima edição e a certeza de outra despedida no dia seguinte com a cada vez mais animada festa da praia - “Fiesta Nightology” - que este ano contou as presenças de Michelle Grinser, James Murphy e os tão esperados 2 Many Dj’s. Mestres das remisturas que sempre se sonhou fazer e nunca se pensaram possíveis, a dupla (com a ajuda de mais de uma dezena de amigos) fez a festa dentro e fora do placo com temas como “Ace of Spades” dos Motorhead, “Crazy in Love” da Beyoncé e, claro, “Take me Out” dos Franz Ferdinand.
Parabéns FIB e até para o ano! (JN) « |
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