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Terrence Malick  - Uma visão única do mundo.
 
Terrence Malick - Uma visão única do mundo.
 
Terrence Malick é um realizador cujos filmes podem ser caracterizados como re-avaliações da percepção corrente de conceitos cinematográficos como a imagem, som, personagens e narrativa, suportados por uma percepção da imagem ímpar onde a natureza desempenha papel primordial, iludem as tentativas de uma interpretação imediata. Isto é, a explicação de um determinado acontecimento, por exemplo o comportamento de uma personagem, é feita através de causas psicológicas ou sociais. O que Malick consegue de uma forma única é a transmissão de estados de espírito. A contextualização da sua obra poderá dar-nos algumas respostas sobre o assunto.

Malick estudou filosofia e trabalhou em jornalismo antes de se iniciar no cinema. Nasceu no Texas, formando-se em Harvard e estudando filosofia em Oxford. Foi professor de filosofia no M.I.T e trabalhou para as revistas Life, New Yorker e Newsweek. As suas influências são usualmente ligadas a Wittgenstein, aos pintores realistas como Hopper e Wyeth, aos documentários de Flaherty e ao expressionismo de Murnau.

O primeiro filme de Malick, Badlands (1973), um roadmovie que segue um serial killer e a sua namorada durante os anos 50, ilustra na perfeição o que o seu cinema tem de peculiar. Louvado como uma das estreias mais promissoras da história do cinema, Badlands foge à tentativa de uma explicação linear dos comportamentos violentos dos seus protagonistas e da sua ausência de valores morais. O filme concentra-se, isso sim, na sua experiência de alienação do mundo e valores que os rodeiam.
A perspectiva de Malick no entanto, não deve ser entendida como uma forma de explicação moral no sentido de justificar os comportamentos das suas personagens principais. O objectivo do realizador parece recair na opinião de que uma condenação imediata, ou uma tentativa de determinar as razões dos seus actos, impossibilita a percepção de que há momentos em que os nossos valores não conseguem lidar com determinados estados de espírito profundamente humanos.

Há uma afirmação inerente à obra de Malick (não só em Badlands, mas também em Days of Heaven e The Thin Red Line) que se baseia no facto de que o nosso mundo e o nosso sistema de valores serem mais frágeis do que pensamos. Um exemplo ilustrativo desta forma de ver o mundo passa pela alienação e solidão de Kit ( Martin Sheen) e Holly ( Sissy Spacek), as personagens principais de Badlands, que não são justificadas psicológica ou socialmente. Alienação e ansiedade são mostradas como faces completamente naturais da vida humana, que oscila entre um mundo estável de rotina e segurança e um mundo mais inseguro quando existe a percepção de que a estabilidade não assenta em valores sólidos e inabaláveis.
Malick tenta mostrar-nos que os actos do Homem nem sempre são motivados por razões de ordem psicológica. Ele desafia o conceito tradicional de definir uma personagem através da psicologia preferindo uma visão das suas personagens como prisioneiros de um mundo que os esmaga (a presença da natureza como face mais visível de um mundo sufocante é ainda mais notória em Days of Heaven de 1978, o segundo filme de Terrence Malick), ilustrando-o de forma exemplar em Badlands, pois quanto mais Kit e Holly se afastam da sociedade e mais livres se sentem, mais insuportável se torna a sua vivência.

Em The Thin Red Line (1998), o muito aguardado regresso de Malick vinte anos depois de Days of Heaven traz-nos uma interpretação da realidade que se fundamenta num conceito que tem origem em Heidegger. De facto, o terceiro e até à data, último filme de Malick, afasta-se mais uma vez de uma ilustração históricamente fiel de um acontecimento pertencente à Segunda Guerra Mundial (a batalha de Guadalcanal), para se centrar no conceito de Heidegger de que a realidade se molda através da luta e do conflito. Com efeito as personagens de The Thin Red Line debatem-se com questões como “ de onde vem esta guerra? Esta violência?” ou afirmações como“ a guerra vem da natureza violenta do Homem”. No entanto, a visão de Malick deverá ser interpretada não como, mais uma vez, uma justificação dos actos da humanidade mas sim uma necessidade intrínseca de questionar, que se justifica por si, onde a resposta não é resposta, mas sim a interrogação, que ilustra o poder da realidade sobre uma perspectiva do real.

O admirável na obra de Terrence Malick é que através da sua obra de uma composição e beleza deslumbrantes e de uma narrativa aparentemente incoerente, consegue como ninguém transmitir-nos o sentido de humanidade e interacção com o mundo (Badlands), a presença esmagadora desse mundo em nós (Days of Heaven) e a origem do mesmo (The Thin Red Line.
Cinematografia: (The Thin Red Line 1998) (Days Of Heaven 1978) (Badlands 1973)(JD).
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2024-11-24
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