Existem duas grandes instituições que coexistem pacificamente no mundo do Jazz. A Blue Note e a Verve. Entre elas há uma espécie de complementaridade que espanta. A Blue Note editou, recentemente, Jacinta, uma cantora portuguesa que reavivou o timbre de Bessie Smith. Maria João e Mário Laginha são representados pela Verve há anos.
A Verve, a marca que mais edita em caixas de cartão, reaviva constantemente o seu catálogo. Deu-nos pérolas como as reedições remasterizadas de Ella, a Grande, na senda de Cole Porter. O incontornável álbum de João Gilberto e Stan Getz, com Astrud Gilberto a descobrir que gostava de cantar, afinal. Com Jobim ao piano. Este, por seu lado, uma espécie de jóia da coroa lusófona…
Costuma-se dizer que ter “verve” é, basicamente ter estômago, estamina, pedal, atitude. Cá está: Atitude.
Ao retomarem temas singulares como “Feelin’ Good”, de Nina Simone, ou “Is you or is you ain’t my baby”, de Dinah Washington, os produtores do projecto “Verve Remixed”, Dahlia Caplin e Jason Olaine( por certo um casal inspirado) deram, desta vez, mais um abanão aos clássicos. Mas a seguir, fazem-lhes festas. De acordo com os tempos modernos, eles chegaram à conclusão que muita da música moderna, nomeadamente a electrónica, sofre de Jazz, Soul, Afro Beat, Funk, música latina. “Verve Remixed 2” é o segundo tomo desta obra, que, desta vez, vem com os negativos/apêndices: “Remixed&Unmixed”.
A ideia é, mais uma vez, dar a entender aos fregueses (que já sabem o que a casa gasta) que o facto de ter tipos tão importantes e para quem esta música, esta casa, esta editora representa muito, como o britânico Mr. Scruff ou Fila Brazillia a remisturar malta como Ramsey Lewis(um belo exemplo da junção de Jazz com música Afro) ou Cal Tjader, o homem do vibrafone.
Tivémos, em 2002, Kruder & Dorfmeister, Madrid de las Asturias, De Phazz, Masters at Work, Dzhian & Kamien, Mj Cole, UFO, e mais alguns pistoleiros a reclamar para si essas músicas. Tal como os produtores, acreditámos que foram eles próprios que fizeram essas músicas… Mas uma olhadela rápida permitiu-nos concluir que a história tem muitas curvas. Afinal quem compôs “Spanish grease” foi Willie Bobo, não Peter Kruder e Richard Dorfmeister. “Summertime” ? Quem era o Gershwin?...
Agora, os resultados são tão giros como surpreendentes: De acordo com a nova ordem mundial, entram em campo Gotan Project (“Whatever Lola Wants”- Sarah Vaughan), Koop a pegar na (com a?...) querida Astrud, Nina Simone, a maior, inesquecível (e espécie de musa destes compiladores, que nunca a deixam de fora), a cantar literalmente com Jaffa. E Félix Da HouseCat, a brincar com essa Lady? Nem vos conto. E há Herbert, Miguel Migs, Dan the Automator, Layo& Bushwacka. É preciso um desenho? Trabalho, muito trabalho. Vocês sabem do que é que eu estou a falar.(Pinto) « |