|
|
|
|
|
|
|
Miguel Pedro em discurso directo |
|
A propósito do lançamento de “Narradores da Decadência”, a biografia dos Mão Morta, Miguel Pedro, baterista e um dos fundadores, fala da experiência intensa do nascimento da banda e do novo disco que sai a 13 de Abril.
Uzi – Vinte anos depois da fundação dos Mão Morta, a pica continua a mesma?
Miguel Pedro – Igual. Sinto como se fosse o primeiro dia. Aliás, este disco (Nus – que estreia a 13 de Abril com o jornal Blitz) foi feito com muita tusa. Nele está presente aquilo que os Mão Morta sempre procuraram. Apresentar algo novo. O primeiro tema tem 30 minutos e foi construído como se duma peça clássica se tratasse.
Uzi – Um disco com algumas surpresas…
MP – Tentamos sempre nunca nos repetirmos. O Primavera de Destroços é um bom exemplo disso. Como todos os outros.
Uzi – Mas voltando às origens, como é que tudo começou?
MP – Portugal vivia o período pós revolucionário e finalmente começavam a aparecer discos e informação sobre a cena cultural e musical internacional. E nós tínhamos vontade de conhecer, existia em Braga um grupo de pessoas que partilhava esse interesse, que procurava esses fenómenos culturais.
Uzi – Entre eles o Joaquim Pinto, um dos pais dos Mão Morta.
MP – O Joaquim Pinto foi a mãe dos Mão Morta. Ele era a pessoa mais prá frente que havia em Braga. Berlim era, na altura, a capital cultural do mundo. E ele ia permanentemente a Berlim e quando voltava partilhava connosco essa experiência. Nesse sentido ele é a mãe porque foi ele que nos pariu (…)
Entre mim, o Adolfo e o Pinto sempre existiu uma grande cumplicidade. E isso foi fundamental para fundarmos a banda.
Uzi – Como era Braga nessa altura?
MP – Em 1984 era muito diferente, sobretudo nas relações sociais. Nessa altura conhecia-se toda a gente, existia uma proximidade entre as pessoas, as relações eram mais rurais. Hoje, Braga é uma cidade cosmopolita. Tem tudo o que tem uma grande cidade.
Uzi – E seria possível, numa Braga cosmopolita, nascer um projecto como os Mão Morta?
Mp – Existem todas as condições. E a compilação “À sombra de Deus” que sai este ano é a prova disso. O talento e o empenho estão lá. Além do mais, revela que continua a existir uma dinâmica musical muito interessante.
Uzi – Os Mão Morta preparam-se para editar mais um álbum. Como é este “Nus”?
MP – A temática nasce com a leitura de um poema de Allen Ginsberg, que representa muito bem toda a beat generation, chamado “o uivo”.
No fundo, é um olhar sobre a geração de 80, que fervilhava de ideias. Dessa geração alguns morreram, outros pedem moedas. São muitas as histórias. Este é um olhar artístico sobre essa geração.
Uzi – Dizias que o primeiro tema tem 30 minutos…
MP – O tema de abertura foi composto à moda clássica. Foi construído com toda essa instrumentação… E esse é o tema matriz, daí resultam os restantes. As outras faixas são excertos dessa matriz. Como uma história que dá origem a outras pequenas histórias. « |
|
|
|
|
|
|
|
|
|