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O pequeno Sondre |
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No dia 13 de Setembro de 1982, a canção “Eye Of The Tiger” do mítico filme “Rocky III” ocupava o número 1 da lista de singles inglesa. Nesse mesmo dia, em Bergen (Noruega) nascia Sondre Lerche.
Milagrosamente, o pequeno Sondre resistiu heroicamente aos tumultos ditados pelas lantejoulas e batons cor-de-rosa choque da época e, ao contrário daquilo que o curso natural da história poderia prever, transformou-se num singer/songwriter (“cantautor” na forçada tradução portuguesa) de respeito, na melhor tradição pop (ou rock, ou folk, ou que lhe quiserem chamar).
Com apenas 19 anos lançou o delicioso primeiro álbum, “Faces Down”, que rapidamente foi idolatrado pela crítica internacional. Apesar da capa do álbum mostrar um rapaz imberbe que mais parecia saído de um qualquer pátio de escola secundária do país (e a verdade não andava muito longe disso), temas como “You know so well”, “Sleep on needles” e “Virtue and wine”, provavam que ainda era possível escrever canções com refrões irresistíveis que apetece saber de cor para o poder acompanhar num dueto imaginário.
Com as expectativas no topo, o segundo álbum previa-se difícil. Mas não. “Two Way Monologue” revela, mais uma vez, um conjunto de verdadeiras canções, com arranjos cuidados (tomar especial atenção ao acordeão sussurrado de “Maybe you’re gone” digno de ser ouvido em repeat pelo menos duas vezes ao dia) e refrões no sítio certo, não necessariamente no momento previsto. Apesar de admirador confesso dos conterrâneos “A-ah”, temas como “Days that are over”, “Stupid memory” e “Two way monologue” evocam claramente os clássicos - Burch Bacarach, Elvis Costello, Beach Boys.
Sondre Lerche cresceu mas continua a ser, acima de tudo, um rapaz simples, que gosta de escrever (e bem), de filmes de Alfred Hitchcock (curiosidade: o lettering de “Faces Down” é claramente inspirado no lettering do filme “Vertigo”) e de nos obrigar a voltar aos tempos de escola em que se decorava os nomes das músicas e respectivos números. Talvez menos imediato do que “Faces Down”, “Two Way Monologue” cumpre perfeitamente os requisitos do sempre complicado “segundo álbum”. Isto é, leva-nos a passar rapidamente da fase “é-bom-mas-o-outro-era-melhor” para a total dependência em que todos os dias se descobre uma nova canção, um novo verso, um novo tom e um novo pequeno Sondre. Enquanto não se consegue arranjar um para levar para casa e ajudar a fazer os trabalhos de casa, resta-nos ouvir com atenção todas as notas das suas canções.(Joana Neves) « |
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