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Uzak - Longínquo
 
Uzak - Longínquo
 
Um fotógrafo, assombrado pelo sentimento de que a sua vida se afasta cada vez mais dos seus ideais, é obrigado a partilhar o seu apartamento com um primo que deixou a sua aldeia para procurar trabalho a bordo de um navio, em Istambul.

Nuri Bilge Ceylan nasceu em Istambul na Turquia em 1959. Depois de se ter licenciado em Engenharia, estudou cinema na Universidade Mimar Sinan, em Istambul.

1995 | Koza (curta-metragem)
1997 | Kasaba
1999 | Mayis Sikintisi/ Nuvens de Maio
2002 | UZAK - LONGÍNQUO

Entrevista a Nuri Bilge Ceylan

COMO É QUE DESCOBRIU O CINEMA?
Nos anos 60, quando eu era criança, não havia televisão, o cinema era algo de mágico, a coisa mais poderosa das nossas vidas. Víamos sobretudo filmes turcos: melodramas, filmes de ficção-científica, westerns,...Na altura, a indústria cinematográfica turca produzia cerca de 300 filmes por ano. Os filmes de Hollywood chegaram um pouco mais tarde. Depois, fiz o serviço militar em Ancara e senti-me muito só. E quando nos sentimos sós, meditamos, pensamos no que queremos fazer com as nossas vidas, quem somos. Lia muito e descobri um dia a autobiografia de Roman Polanski. Marcou-me muito. Eu era fotógrafo, por isso conhecia a técnica. Então pensei: porque não fazer um filme? A ideia continuou comigo, fui lendo livros porque queria dominar mais a técnica. E ao fim de dez anos fiz a minha primeira curta-metragem. Tinha 36 anos. Acho que foi tarde. Mas mais vale tarde que nunca.

PARA ALÉM DOS FILMES TURCOS, QUE OUTROS FILMES O MARCARAM NA SUA INFÂNCIA?
O primeiro filme que me marcou cinematograficamente, tinha 16 anos, foi “O Silêncio”, de Bergman. Foi a primeira vez que percebi que o cinema podia ser outra coisa, para além do divertimento. Mas não era fácil ver filmes do mundo inteiro na Turquia. Depois do serviço militar parti para Inglaterra: aí, via três filmes por dia. Ozu foi importante, fez-me pensar muito no cinema, na encenação, nas escolhas estéticas. À medida que Ozu foi ficando velho e célebre, mais os seus filmes ficaram depurados, contrariamente à maioria dos outros cineastas que queriam sempre mais meios técnicos.

QUAL É O PORQUÊ DE UTILIZAR SEMPRE TÃO POUCOS DIÁLOGOS?
Porque acho que os rostos e os corpos dizem mais que as palavras. Na vida, a maioria das pessoas mente. As palavras são na maior parte dos casos um paravento e não um vector de verdade, servem mais para camuflar do que para revelar. Não acredito muito no que as pessoas dizem, mas acredito muito no que não dizem. O que elas calam tem muito mais informação. Os olhares, os gestos, as expressões, as posturas mentem menos do que as palavras. Aproveito para dizer que é difícil esperar muita verdade de uma entrevista! Não lhe estou a mentir, é verdade, mas digamos que não direi mais do que uma ínfima parcela da minha verdade.


QUAL É O SEU MÉTODO DE TRABALHO COM OS ACTORES, QUE NÃO SÃO PROFISSIONAIS?
É fácil trabalhar com eles porque eles colaboraram em todos os meus filmes. Muzaffer é um amigo de longa data, conhecemo-nos muito bem e entendemo-nos muito bem. Quando trabalho com actores que não conheço, fico mais ansioso, sobretudo com profissionais. São mais dependentes dos métodos dos actores. Um amador vai utilizar as suas próprias experiências, as suas próprias palavras e isso por vezes é muito melhor, porque é mais ligado à vida, tem mais verdade. Um profissional baseia-se sobretudo na técnica e nos seus papéis anteriores. Prefiro filmar seres humanos a actores.

UTILIZA MUITO O PLANO SEQUÊNCIA E QUASE NUNCA O GRANDE PLANO...
Mais do que escolhas técnicas, são escolhas morais. É preciso uma boa razão para fazer um grande plano. Quando fazemos um grande plano estamos a impor ao público algo, a dirigir a sua emoção. Acho que o ponto de vista de um filme deve aproximar-se do ponto de vista da vida. Por exemplo, quando está sentado num café e observa um casal na mesa ao lado e começa a imaginar qual será a relação deles, o que será que estão a dizer... Acho que o realizador deve adoptar este ponto de vista, como se estivesse sentado no café. Quando mostramos demais, explicamos demais, quando fazemos grandes planos, tornamos o espectador passivo. Com os planos sequência é semelhante. Se não sinto necessidade de cortar, não corto. Essa é uma opção dura! Se há algum erro ao fim de 5 minutos, é preciso fazer tudo outra vez.

UZAK DESTRÓI MUITOS CLICHÉS SOBRE A TURQUIA. SERÁ QUE SE DEVE AO FACTO DE FILMAR ISTAMBUL COBERTA DE NEVE? ACHA QUE O CINEMA É UM BOM INSTRUMENTO PARA QUEBRAR CLICHÉS E PRECONCEITOS?
Sim, mas o cinema também tem o poder de criar clichés. Por exemplo, muito do que conhecemos da América vem dos filmes. E, no entanto, a América é bem mais complexa do que os filmes que nos chegam de Hollywood. Mas tem razão, o cinema também pode servir para quebrar clichés, ser um vector de complexidade, se for bem utilizado. O meu projecto de cineasta não consiste em quebrar clichés, nem em veiculá-los. É muito mais simples: quero mostrar a realidade tal como a vejo e sinto.

COMO É QUE OS SEUS FILMES SÃO RECEBIDOS NA TURQUIA?
Como em todo o lado, o cinema de Hollywood domina. Mas há público para filmes de arte e ensaio e este filme é cada vez maior, sem dúvida graças ao Festival de Istambul. A nossa situação é melhor do que a iraniana, pelo menos os filmes turcos podem ser vistos na Turquia. Todos os meus filmes foram bem recebidos pela crítica e tem um público restrito mas sólido.
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Titulo Uzak - Longínquo
Realizador Nuri Bilge Ceylan
Actores Muzaffer Ozdemir, Mehmet Emin Toprak, Nazan Kirilmis, Fatma Ceylan, Zuhal Gencer Erkaya
Ano 2002
 

 


 

 
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