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Playtime
 
Playtime
 
Na era das ‘Economic Air Lines’, turistas americanas efectuam uma viagem organizada. O programa é composto pela visita de uma capital por dia. Quando chegam a Paris, apercebem-se que o aeroporto é exactamente igual àquele de onde partiram de Roma, que as ruas são como as de Hamburgo e que os candeeiros de rua se parecem estranhamente aos de Nova Iorque. Apesar de o cenário ser sempre igual, elas evoluem num cenário internacional – que existe realmente, eu não o inventei. Pouco a pouco encontram franceses. Cria-se um pequeno calor humano, que lhes permite estar 24 horas com parisienses, entre os quais, o Sr. Hulot.

Jacques Tati dixit
PLAYTIME é toda uma história.
Primeiro quisemos filmar em cenários reais, mas apercebemo-nos – ao fim da primeira semana de rodagem – que era complicado parar o trânsito em Orly, ou interromper a actividade de um centro comercial ou um supermercado.
Precisámos então de fazer o cenário que não existia. Inventei-o. Demorou muito tempo a construir e foi muito caro. Devia ter esperado cinco ou seis anos e ter-me instalando em La Défense, onde, de facto, construíram o cenário de PLAYTIME! Ao fim e ao cabo, PLAYTIME era um filme de técnicos. E quando se gera uma história à volta do orçamento do filme, eu respondo que os cenários podem ser enormes, mas mesmo assim não era Ben Hur!, não custava mais do que a Sofia Loren... Não havia vedeta no filme, ou melhor, era o cenário a vedeta, pelo menos, no início do filme.

Escolhi edifícios bonitos, com fachadas modernas, mas de qualidade, porque o meu trabalho não é fazer crítica de arquitectura moderna. Era possível deslocar cada edifício, o que era prático. Quis que ficasse para os jovens cineastas, mas foi arrasado. Não ficou nada.

[Tativille foi pensada por Jacques Tati e desenhada por Eugène Roman. Era uma cidade de cinema, criada para o filme. Tinha edifícios de aço, ferro e vidro, ruas, escritórios, aeroportos, escadas rolantes, tudo num estúdio revolucionário com 15000 m2.]

Podia ter-lhe chamado o “tempo do lazer”, mas preferi chamar-lhe “Playtime”. Nesta vida moderna parisiense, é muito chique utilizar palavras em inglês para vender uma determinada mercadoria: estacionamos em “parkings”, as donas de casa fazem compras nos “supermarkets”, há um “drugstore”, a noite num “night-club”, vendem-se bebidas “on the rock”, comem-se “snacks” e quando estamos apressados é preciso ser “quick”. Não encontrei um título em francês.
Falam-me com frequência dos diálogos dos meus filmes. No PLAYTIME, meti o diálogo no interior do som. O que se ouve num mercado, numa estação de comboios, num aeroporto, são partes de frases. De repente, ouve-se uma mulher que diz ao marido: “Mas porque é que não me disseste isso?”. Não sabemos porque é que ele não lhe disse, mas ficamos a saber que ele não lhe disse.

Disseram-me muitas vezes também que achavam este formado dos 70mm pretensioso. É muito simples: eu não pergunto a um ilustrador porque é que ele escolheu uma folha grande. Se filmar em Super 8, vou filmar uma janela, em 16 mm, vou ter quatro, em 35 mm vou ter doze e em 70 mm vou ter a fachada de Orly. Acho que ao fim e ao cabo só estou a fazer o meu trabalho: inventaram os 70 mm, as quatro pistas de som, não percebo porque é que teríamos de voltar ao preto & branco e a uma só pista de som! Em 70 mm, posso mostrar o que é um prédio moderno.

O cenário, como em alguns desenhos, tem uma enorme importância em PLAYTIME. E, no entanto, não é o cenário que invade, mas a utilização do cenário. Em PLAYTIME, em todo o início do filme, dirijo as pessoas para que elas sigam as indicações dos arquitectos. As pessoas sentem-se prisioneiras dos cenários. Se o Sr.Hulot entrar numa pequena loja e deixar cair o guarda-chuva, a lojista vai dizer-lhe: “Sr, desculpe, deixou cair o guarda-chuva”. “Ah! Desculpe...” Não tem importância. Mas por causa da grandiosidade do cenário, se deixar cair o guarda-chuva no hall de entrada de Orly, esse gesto ganha outra dimensão. Porque tudo foi decidido, tudo foi projectado pelos arquitectos para que não se deixe cair o guarda-chuva. E, por causa do som da queda do guarda-chuva, você cometeu um acto perigoso. Você torna-se um personagem. Se o arquitecto estivesse lá diria: “Senhor, desculpe-me, isto não foi desenhado para que se deixar cair um guarda-chuva”. Isto acontece frequentemente com os tipos que vão ao aeroporto comprar garrafas de whisky porque é mais barato. Muitas vezes elas são mal embaladas e de repente, paf!, estilhaçam-se no chão. Nunca vi pessoas ficarem tão incomodadas por partirem uma garrafa como nessas situações. Quando estamos numa pequena tasca e isso acontece, dizem “então, isso não se faz”, mas vão logo resolver o acto que não é assim tão dramático.

Na arquitectura moderna, tentaram que as linhas fossem muito direitas, que toda a gente se levasse muito a sério. Toda a gente parece muito instruída só porque anda com um guardanapo.
Na primeira parte do filme, é a arquitectura que domina. Depois, pouco a pouco, o calor, o contacto e a amizade do indivíduo sobrepõem-se a este cenário internacional e depois começam a aparecer publicidades luminosas, começa-se a dançar, até que tudo se torna um carrossel. Acabaram-se os ângulos rectos no final!

Quis que se recordassem que quando temos um furo chamamos alguém com uma chave. É esse senhor com a chave que eu quero defender no meu filme. O meu trabalho não é ser crítico de arquitectura. Estou aqui para defender o indivíduo e a personalidade, para que se respeitem as pessoas, o senhor Robert que vem arranjar o furo. Precisamos dele, ele é muito importante com a chave na mão. E depois acredito que não temos todos de nos vestir da mesma maneira, que temos o direito de nos pentearmos como bem entendermos. Em PLAYTIME quero defender as pequenas personagens. Gosto de pessoas simples porque tenho uma vida simples e não quero ser o mais rico de Saint-Germain-en-Laye! É claro que me podem dizer que os meus números são maus. Isso, já não sei. Os espectadores não estavam à espera do que tentei fazer, porque os espectadores estão sempre a meter etiquetas nos artistas: “é o cómico da noite, vai fazer-nos rir”. Mas em PLAYTIME é ao contrário, é um convite. Olhem à vossa volta e verão que se passa sempre qualquer coisa de engraçado. Acho que PLAYTIME não foi feito para um ecrã, mas sim para a vista.
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Cineclube www.cineclubejoane.org
Titulo Playtime
Realizador Jacques Tati
Actores Jacques Tati, Barbara Denneck, Billy Kearns, Rita Maiden, Jack Gauthier.
Ano 1967
 

 


 

 
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